O estudo da Antropologia Filosófica, mais especificamente da essência humana, me imergiu numa crise existencial violenta. Eu brinco que foi como abrir a caixa de Pandora.
Porque eu me deparava a todo momento abrindo a caixa do meu ser e descobrindo coisas horríveis ali…
Há uma essência verdadeira, bela e boa, mas há a mácula do pecado original que, muitas vezes, esconde a esperança que está no fundo dessa caixa.
Leia o resumo do mito aqui: https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/rfPvuZ46XC9feAXVJykpVeHh7RcDpgsWpP8YTk3aqkWPYxBhuZgh3XVzy3Dr/his5-03und02-caixa-de-pandora.pdf
Pois bem.
Conhecer sua essência pode ser como abrir uma caixa de Pandora. Mas também é libertador. Afinal, precisamos sair da caverna, não é mesmo?
E se você nunca leu “A Alegoria da Caverna” de Platão (comumente conhecido com O mito da Caverna), leia. Se já leu, leia de novo, e me conte aqui qual foi a sua interpretaçã: https://sumateologica.wordpress.com/wp-content/uploads/2009/10/platao_o_mito_da_caverna.pdf
Estamos, de fato, aprisionados em uma caverna, pés e pescoços acorrentados, voltados para uma versão empobrecida da existência.
É justo nos contentarmos com as sombras projetadas por uma pequenina fogueira, mesmo tendo um sol reluzente lá fora, iluminando e revelando a realidade, e tudo que há de verdadeiro, belo e justo nela?
Na “Alegoria da Caverna”, Platão traz um diálogo de Sócrates e Glauco, sobre escravos que estão desde sempre acorrentados, pés e pescoços, em uma caverna subterrânea, que tem um muro e uma fogueira que projeta as sombras de alguns transeuntes que vão de lá para cá, com estatuetas e tantos outros objetos sobre a cabeça, cujas sombras refletem nesse muro.
Como os escravos estão acorrentados, sem poder se mover, nem sequer virar a cabeça, tudo que eles veem são essas sobras e tudo que eles ouvem são as vozes distantes desses transeuntes.
Eis que um desses escravos consegue se soltar, e ao virar em direção à fogueira percebe sua luz e aquilo que ela timidamente revela. De início a luminosidade o incomoda, deixando-o confuso acerca das imagens que lhe relevou. De modo que ele ainda entende como realidade absoluta as sombras que viveu contemplando.
Continuou a caminhada e saiu da caverna, oportunidade em que viu a luz do Sol, e daí então sentiu um sofrimento ainda maior.
E eu comparo isso a quando estamos em um quarto totalmente escuro ou quando passamos por um túnel. Quando saímos de um ambiente escuro para um ambiente claro, nossos olhos precisam de um tempo para se adaptar à luz intensa. Esse processo, chamado de adaptação à luz, envolve principalmente a contração da pupila e o ajuste dos fotorreceptores da retina, e pode levar de 1 segundo até 1 minuto para se adaptar à claridade.
É uma analogia maravilhosa, porque exemplifica o sofrimento da alma através do sofrimento físico real. A dificuldade de, fisicamente, se adaptar à claridade. Indica processo, tempo, espera, paciência. Indica dor, desconforto e confusão.
Platão pensa de baixo para cima, apresentando a hierarquia do conhecimento e da alma.
Uma caverna subterrânea, que tem uma pequena fogueira ainda dentro da caverna (no nível mais baixo), esses são os sentidos (olfato, visão, paladar, audição e tato), o nível mais baixo de conhecimento. Porque só somos capazes de conhecer aquilo que sentimos materialmente.
Na medida que o escravo vai subindo, ele vai ascendendo em conhecimento, até que esteja pronto para contemplar o Sol e as estrelas, aqui representando o BEM, princípio máximo, que ilumina e dá sentido à todas as coisas. O mundo inteligível. A inteligência.
Somos os escravos que Sócrates narrou.
As redes sociais que projetam sombras; os prazeres desmedidos e os vícios que prendem nossos pés, as ideologias que acorrentam nossos pescoços…
A modernidade tem nos transformados em escravos dos nossos sentidos, longe da luz do Sol, do BEM.
Você será o escravo que se libertará e suportará os desconfortos de enxergar a luz?


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